Mesmo com a popularidade em queda e enfrentando dificuldades especialmente entre os evangélicos, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem rejeitado o apelo de ministros para fazer um gesto mais enfático direcionado a este público. O chefe do Executivo já descartou uma série de propostas que chegaram ao gabinete, como a realização de um evento ou encontro com pastores; a criação de um grupo do governo que dialogue com o segmento; ou o lançamento de programas com políticas públicas específicas para este núcleo de religiosos.
Lula argumenta, segundo um auxiliar, que não quer substituir o ex-presidente Jair Bolsonaro no púlpito e que deseja se aproximar mostrando que os evangélicos também usufruem dos avanços do governo nas áreas sociais e econômicas. Nas conversas, o presidente costuma repetir que o Estado é laico e que não se deve fazer uso político da fé, mesmo tom usado na reunião ministerial de segunda-feira.
Sem a presença das câmeras, o presidente disse que não vê problema algum em falar com pastores e que é a pessoa que “mais conversa com gente neste país”. Mas, segundo um ministro presente, deu a entender que o problema não é a disposição em dialogar, mas o fato de parte das lideranças evangélicas não desejarem uma aproximação. Lula ainda se ressente do que entende por ingratidão de líderes, que foram próximos de gestões petistas passadas e depois estreitaram laços com o ex-presidente Jair Bolsonaro.
Pesquisa Genial/Quaest mostrou que a desaprovação ao trabalho de Lula chega a 62% entre os evangélicos — era de 56% em dezembro do ano passado —, enquanto na média geral da população o índice é de 46%. Já a avaliação negativa da gestão subiu 12 pontos percentuais no período e foi a 48%. Ministros admitem que o governo não tem uma estratégia construída e transversal sobre o tema e reconhecem que hoje falta uma formulação política mais refinada para esse segmento da sociedade.