Aos 81 anos, o ex-deputado Roberto Freire perdeu o controle do Partidão, como era chamado o PCB, que virou PPS muito tempo depois e, recentemente, Cidadania. Por mais de 40 anos, Freire comandou a legenda com mão de ferro. Trata-se de um político de uma longa história no campo nacional, a partir do primeiro mandato de deputado estadual nas eleições de 1974, sendo eleito quatro anos depois deputado federal.
Ao lado de Miguel Arraes, Jarbas e Marcos Freire, Roberto Freire teve papel importante no combate à ditadura militar. Dos pernambucanos, recebeu a confiança pela renovação de mais três mandatos federais e chegou ao Senado, eleito na chapa de Miguel Arraes governador, em 1994. No Governo de Michel Temer, assumiu o Ministério da Cultura, entre novembro de 2016 a maio de 2017.
Antes de refundar o PCB em 1985, Roberto Freire militou no MDB, de 66 a 79, e no PMDB, de 80 a 85. O PPS nasceu em seguida, para dar lugar ao Cidadania. Freire é advogado e quando viu que não tinha mais espaço em Pernambuco transferiu seu colégio eleitoral para São Paulo, onde foi eleito em 2010 e reeleito em 2014.
Em 1989, disputou a Presidência da República pelo PPS, tendo como vice o sanitarista Sérgio Arouca. Contra a visão tradicional da esquerda marxista, passou a defender o socialismo democrático, colocando-se em oposição ao Governo Lula. O Cidadania aprovou o seu afastamento do comando da legenda e escolheu o líder da sigla no Rio de Janeiro, Plínio Comte Bittencourt, seu sucessor.
“Depois de duas décadas de militância, fui honrado com a indicação dos companheiros de partido para a Presidência da Executiva Nacional do Cidadania”, escreveu Bittencourt na rede social. Ex-deputado estadual do Rio, Bittencourt afirmou ter aceitado o “desafio” com o objetivo de “unir o partido em torno dos valores democráticos que sempre nortearam nossa atuação política”. O Cidadania protagonizou um racha interno que se tornou público em agosto. Em uma reunião da Comissão Executiva Nacional da legenda, o comando de Freire foi questionado.
O então líder da sigla era visto por parte dos caciques como uma pessoa “explosiva” e com dificuldade para lidar com opiniões diferentes das suas. A desavença se deu porque a maioria do comando do Cidadania decidiu que o partido deveria integrar a base de apoio ao governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no Congresso.
A deliberação irritou Roberto Freire, que era contra a adesão. O ex-deputado queria que a sigla ampliasse a federação PSDB-Cidadania, com uma aliança com os partidos Podemos e MDB, mas a opção foi rejeitada. Em nota, Freire disse que a sua saída era “irrevogável”. O ex-deputado disse ter sido “leal” aos seus princípios e que esperava que não desonrasse a história do partido.
O Cidadania é um braço do antigo PCB (Partido Comunista Brasileiro), fundado em 1922, sob influência da Revolução Russa e da Internacional Comunista. Conhecido como “partidão” na esquerda, abrigou várias correntes de comunistas ao longo de sua história. Em 1989, na 1ª eleição direta para presidente pós-ditadura militar, teve Roberto Freire como candidato e 1,14% dos votos nas urnas.