Pernambuco teve um aumento de 52,7% no número de pessoas mortas em decorrência de atividade policial, entre os anos de 2019 e 2020. Os números foram divulgados nesta terça-feira (14) pela Rede de Observatórios da Segurança, que monitora dados de sete estados brasileiros. Entre esses locais, o aumento pernambucano é o maior.
O estudo avaliou dados de sete estados brasileiros: Bahia, Ceará, Piauí, Pernambuco, Rio de Janeiro, São Paulo e Maranhão
Do total de 2020, 109 pessoas eram negras, o que corresponde a 97% das vítimas, embora representem 61,9% da população do estado, segundo o estudo. Outras três pessoas eram brancas e, em um dos casos, não foi possível identificar a cor da pele.
Entre as capitais dos estados monitorados, 100% dos mortos são negros no Recife, Fortaleza e Salvador. O número de pessoas mortas nessas cidades não foi divulgado. O relatório pode ser acessado pela internet.
De acordo com Edna Jatobá, coordenadora da Rede de Observatórios da Segurança e coordenadora-executiva do Gabinete Assessoria Jurídica Organizações Populares (Gajop), os números são um retrato do racismo institucional na prática da segurança pública.
"É um aumento expressivo e que a gente precisa estar bem atento enquanto sociedade, para saber que tipo de polícia a gente precisa. A gente não precisa de mais policiais que executam as pessoas sem chance de defesa e dentro de uma perspectiva alternativa de justiça", afirmou Edna Jatobá.
Edna Jatobá fez uma relação entre casos recentes. Um deles foi Jhonny Lucindo, de 17 anos, morto em agosto de 2020, com um tiro na nuca por PMs durante uma abordagem. O outro foi Victor Kawan, também de 17 anos, assassinado durante uma abordagem policial, no sábado (11). Os dois eram negros.
Edna Jatobá afirma que, nos dois casos, o Gajop buscou prestar apoio às famílias das vítimas na busca por justiça.
"O que eles têm em comum é a cor da pele e o território onde acontece, muito criminalizado pela polícia, que primeiro atira e depois vai procurar saber quem é. Mesmo se fosse uma pessoa envolvida com a criminalidade, esse não é o tipo de ação que se espera da polícia num estado democrático de direito, onde não existe pena de morte e execução sumária. Essas pessoas precisam ser apresentadas à Justiça para que sejam responsabilizadas de uma outra maneira", disse.
A irmã do jovem, Mickaelly Rayane Souza da Silva, disse ter recebido imagens que mostram um rastro de sangue no chão. "[É como se] ele tivesse sido perseguido. Recebeu o tiro e correu até o certa distância. Acho que devido ao ferimento, que foi grave, ele caiu. [...] Agora, eu descobri que ele correu", declarou a Mickaelly.
De acordo com o pai, o médico da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) onde o garoto foi atendido antes de ter a morte declarada relatou que o adolescente foi baleado nas costas e o tiro atravessou o peito. "Eles tiraram o corpo de lá e colocaram o corpo já morto no carro. [...] Quero limpar a imagem dele. Queria que conhecessem ele", afirmou Silva.
Por meio de nota, a Secretaria de Defesa Social (SDS) informou que "a preservação de todas as vidas, independentemente da cor, raça ou gênero, é uma determinação das forças de segurança em Pernambuco, norteadas pelo Pacto pela Vida".
A SDS informou que, segundo estatísticas oficiais do estado, em 2021, até o momento, houve redução de 12% nas mortes por intervenção policial em 2021, em relação ao mesmo período de 2020. A SDS não divulgou os números.
"As polícias de Pernambuco recebem constante treinamento, capacitação e reciclagem para uma atuação técnica e dentro da legalidade, para preservação de todas as vidas, garantia da cidadania e direitos humanos. Em seu dia a dia, as polícias combatem justamente as diversas formas de violência, exclusão, preconceito e intolerância, a exemplo do racismo", afirmou o governo.
Por fim, a SDS informou que todas as ocorrências de morte em decorrência de intervenção policial em que há indício de imprudência, imperícia ou dolo por parte do servidor público são investigadas "com rigor na esfera disciplinar pela Corregedoria Geral da Secretaria de Defesa Social. No âmbito criminal, a investigação é feita pela Polícia Civil de Pernambuco".
Fonte: g1