Botijão de gás. Foi isso que a mãe de Marilene dos Santos, de 34 anos, pediu a ela de Natal neste ano. Beneficiária do Auxílio Emergencial, ela foi uma das pessoas que enfrentou fila na agência da Caixa na Encruzilhada, na Zona Norte do Recife, para sacar o dinheiro da última parcela, nesta quinta-feira (18).
A partir desta quinta-feira, os nascidos em novembro e que estão fora do Bolsa Família podem sacar a última parcela do Auxílio Emergencial. Muitos dos que estavam esperando o dinheiro não sabiam o que fazer nos próximos meses e torciam para ter, ao menos, comida na mesa (confira mais abaixo).
Com o fim do auxílio emergencial, a Rede Brasileira de Renda Básica, instituição que reúne professores e pesquisadores, calcula que 29 milhões de pessoas ficam sem qualquer renda do governo.
Também foi liberado o pagamento do Auxílio Brasil para quem já recebia o Bolsa Família e tem o número de inscrição social (NIS) com final 2 nesta quinta. Quem tem NIS terminado em outros dígitos receberá ao longo dos próximos dias (confira calendário mais abaixo).
Marilene perdeu o emprego de vendedora em março de 2020 e, desde então, não consegue recolocação. Ela contou que não vai receber o Auxílio Brasil.
“O Natal a gente junta com o resto dos meus irmãos, cada um faz uma coisinha e a gente celebra o nascimento de Jesus, que é o mais importante. Não esperamos fartura, é só simbólico, é só para a gente lembrar de quem ama. Nesse ano, minha mãe quer que a gente se junte e dê um botijão [de gás] para a casa. Vamos ver se conseguimos", relatou.
Durante a pandemia, o dinheiro do Auxílio Emergencial foi o que ajudou Marilene a cuidar dos pais, que têm 84 e 87 anos.
"O dinheiro que a gente tem é a aposentadoria do meu pai e esse dinheiro que eu recebia. Estou atrás de emprego desde que fui demitida, mas está difícil de encontrar. Quanto mais o tempo passa, mais parece que não tem mais onde trabalhar”, afirmou.
Desempregada há três anos, Marileide Inácia, de 57 anos, não está inscrita no Cadastro Único e, com isso, sabe que não vai receber o Auxílio Brasil. “Em casa, sou eu e meu marido. Ele já recebeu a última parcela do auxílio, também desempregado. Daqui para a frente, a gente vai ter que contar com a sorte e ajuda de Deus", disse.
"Sinceramente não sei o que vai ser da gente, estou contando com a esperança de que meu filho consiga um emprego, mas de certeza mesmo [que temos] é só a falta de dinheiro e a dificuldade. É rezar para ter comida na mesa. Natal, Ano Novo e essas coisas, não espero", afirmou Marileide, que foi sacar a última parcela a que tem direito do Auxílio Emergencial.
O mecânico de bicicleta, Adilson Arthur, de 47 anos, morador da Bomba do Hemetério, na Zona Norte da cidade, contou que recebe o Auxílio Emergencial desde a primeira parcela e veio em busca do último pagamento.
“Eu trabalho todo dia, sou autônomo, mas tudo está tão difícil. Teve uma melhora porque o pessoal começou a andar que só de bicicleta agora, né? Sem dinheiro todo mundo vai assim, mas é coisa pouca por dia, não dá para sustentar família não”, contou.
Pai de três filhos crianças de 5, 9 e 11 anos, o mecânico relatou que está preocupado com os próximos meses. “Mês que vem, a gente vai ver como vai ficar. Minha família nunca conseguiu o Bolsa Família, agora só posso esperar para ver o que vai ser da gente”, relatou.
Desempregada e mãe de cinco filhos com idades de 4, 7, 11 e gêmeas de 17 anos, Andrea da Silva foi em busca do Auxílio Brasil, liberado aos beneficiados com NIS final 2 nesta quinta-feira (18). Ela disse que não conseguiu fazer a consulta para ver qual o valor que vai receber agora com a mudança do benefício. Até outubro, recebia R$ 349 para cuidar da família.
“Esse dinheiro é tudo que eu tenho de certo. É com ele que compro o gás e o alimento dos meus filhos. Como eles estão na escola, a gente tem a ajuda da merenda também, mas é isso [Auxilio Brasil] que dá a gente o que comer. A última vez que comprei o gás foi quase R$ 100, não sobra nada. Eu vi que prometeram R$ 400, mas não sei se eu vou receber isso”, relatou Andrea.
fonte: g1